Endometriose Intestinal: Todas as Pacientes Precisam Mesmo de Cirurgia?
31 de outubro de 2025

O que é endometriose intestinal?

A endometriose é uma condição ginecológica na qual tecido semelhante ao endométrio, que reveste o útero, cresce fora do útero. Quando esse tecido se desenvolve no trato intestinal, temos a chamada endometriose intestinal, uma forma menos comum, mas potencialmente mais problemática de endometriose. Ela ocorre em cerca de 4% de todas as pacientes com endometriose mas, entre as pacientes com endometriose classificada como profunda, ela está presente em até 40%. Esses implantes podem se fixar em qualquer parte do intestino, geralmente envolvendo o final do intestino delgado, início do intestino grosso, apêndice cecal, cólon sigmoide e especialmente o reto. A endometriose intestinal pode levar a sintomas gastrointestinais, incluindo dor abdominal, constipação ou diarreia, e até mesmo obstrução intestinal em casos mais graves, apesar de extremamente raro.

Impacto na qualidade de vida

A qualidade de vida de pacientes com endometriose intestinal pode ser significativamente comprometida. A dor crônica é um dos sintomas mais debilitantes, frequentemente fazendo com que as pacientes tenham dificuldade em realizar atividades diárias ou manter suas rotinas. A dor pode ser constante ou esporádica, correlacionada com o ciclo menstrual. Além disso, a presença de sintomas intestinais como distensão, alterações nos hábitos intestinais, dor ao evacuar e desconforto abdominal aumentam o sofrimento das pacientes.

Necessidade de cirurgia: é realmente obrigatória?

Uma dúvida comum entre pacientes diagnosticadas com endometriose intestinal é se a cirurgia é inevitável. A realidade é que nem todas as mulheres precisarão de tratamento cirúrgico. A decisão por uma cirurgia deve ser altamente individualizada, baseada no quadro clínico, localização da doença intestinal, desejo de engravidar e na resposta ao tratamento conservador. Em pacientes cuja qualidade de vida está severamente afetada ou que não respondem a tratamentos menos invasivos ou ainda com falhas a outros tratamentos para auxiliar a fertilidade, a cirurgia pode ser considerada. Todavia, é crucial que o médico e a paciente discutam os potenciais riscos e benefícios envolvidos.

Tratamentos alternativos e manejo clínico

Antes de considerar a cirurgia, outras abordagens menos invasivas podem ser tentadas para amenizar os sintomas da endometriose intestinal. Tratamentos hormonais, como progesterona ou agonistas do GnRH, podem ajudar a reduzir os sintomas associados à endometriose. Uma dieta anti-inflamatória e o uso de analgésicos também podem proporcionar algum alívio dos sintomas. É importante que as pacientes mantenham um acompanhamento regular com o especialista para monitorar a evolução dos sintomas e ajustar o tratamento conforme necessário.

Riscos e complicações potenciais da endometriose intestinal

Os riscos de complicações devido à endometriose intestinal variam, mas podem incluir comprometimento maior da fertilidade e até obstrução intestinal, especialmente em casos avançados. O tratamento inadequado ou a falta de tratamento podem resultar em complicações adicionais, enfatizando a importância do diagnóstico precoce e de um plano de tratamento eficaz.

Fertilidade e endometriose intestinal

A endometriose é uma das principais causas de infertilidade em mulheres. Quando a doença afeta o intestino, pode haver um impacto ainda maior sobre a fertilidade da mulher. Ainda assim, muitas mulheres com endometriose intestinal podem conceber naturalmente, embora, em alguns casos, possa exigir tratamento adicional e intervenção com técnicas de reprodução assistida para melhorar suas chances de gravidez. Conversas detalhadas com um especialista em fertilidade são recomendadas para explorar todas as opções reprodutivas disponíveis.

FAQs: Endometriose intestinal - todas as pacientes precisam mesmo de cirurgia?



A endometriose intestinal pode se resolver sem intervenção cirúrgica?

Não, a doença não irá regredir ou deixar de existir. No entanto, muitas vezes os sintomas podem ser gerenciados com tratamento clínico e mudanças no estilo de vida. A cirurgia é reservada para casos onde o manejo conservador não é eficaz no alívio dos sintomas ou no impacto sobre a fertilidade da paciente.

Como a endometriose intestinal é diagnosticada?

O diagnóstico envolve a avaliação dos sintomas clínicos, exame físico, exames de imagem especializados, como ressonância magnética de pelve e ultrassonografia transvaginal, ambos com preparo intestinal, além de colonoscopia que é reservada apenas para casos selecionados. Hoje em dia, a laparoscopia diagnóstica não costuma ser necessária em locais que dispõe de exames de qualidade, sendo reservados para locais onde esses exames não estão disponíveis e a dúvida diagnóstica persiste.

Quais são as opções cirúrgicas?

As opções dependem da localização da doença intestinal e a extensão da endometriose acometendo o intestino. Pode incluir apenas simples raspagens para lesões mais superficiais (shaving), ressecções apenas do nódulo de endometriose (nodulectomia ou ressecções discoides) e até a ressecção do segmento intestinal afetado (ressecções segmentares).

É possível prevenir a endometriose intestinal?

Não existem métodos comprovados para prevenir a endometriose, mas o tratamento precoce e o manejo adequado podem limitar a progressão e impacto clínico da doença na qualidade de vida da paciente.

A endometriose intestinal sempre causa sintomas?

Nem todas as pacientes apresentam sintomas. Algumas podem ter a doença sem perceber, enquanto outras podem sofrer com sintomas graves.

A endometriose intestinal afeta mais algum grupo específico?

A doença ocorre principalmente em mulheres em idade reprodutiva, mas não se limita a um grupo etário específico. Histórico familiar também pode aumentar o risco.

Considerações finais

A endometriose intestinal é uma condição complexa que pode afetar significativamente a qualidade de vida, mas não requer cirurgia para todas as pacientes. O tratamento deve ser feito com base nas circunstâncias individuais de cada paciente, levando em conta a severidade dos sintomas e os efeitos sobre a qualidade de vida. Com acompanhamento adequado, é possível manejar a condição de forma eficaz, com ou sem intervenção cirúrgica.

Artigo escrito por

Dr. Alexandre Bertoncini

Cirurgia do Aparelho Digestivo e Coloproctologia


O Dr. Alexandre Bertoncini é cirurgião do aparelho digestivo e coloproctologista formado pela Faculdade de Medicina da USP, membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva e associado à Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Possui Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP e é pesquisador com foco em oncologia e endometriose intestinal. 

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