A endometriose de intestino delgado é uma das manifestações menos comuns da endometriose intestinal, ocorrendo de forma isolada em cerca de 3 a 5% das mulheres diagnosticadas com a doença intestinal. No entanto, essa forma de endometriose é de particular preocupação, pois pode estar presente em até 20% das mulheres que têm endometriose associada ao reto . Isso aponta para uma complexidade que exige um exame detalhado e um entendimento cuidadoso da doença e do quadro clínico.

O crescimento do tecido semelhante ao endométrio sobre intestino delgado pode levar a uma série de complicações, sendo a mais grave a obstrução intestinal. A gravidade da endometriose no intestino delgado é frequentemente maior do que quando acomete o intestino grosso, principalmente pelo risco mais elevado de obstrução já que o diâmetro do intestino delgado é menor que do intestino grosso. Esse risco implica que a cirurgia seja praticamente obrigatória para essas pacientes , independentemente da intensidade dos sintomas e desejo de engravidar, devido à potencial urgência cirúrgica que pode surgir nos quadros de obstrução.

O diagnóstico da endometriose de intestino delgado pode ser desafiador, uma vez que seus sintomas, como dor abdominal e distúrbios intestinais, podem se assemelhar a outras condições gastrointestinais. Métodos de imagem como ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética com preparo intestinal são ferramentas essenciais na avaliação desta condição, mas frequentemente podem não mostrar essas lesões por conta de limitações técnicas e tecnológicas ainda desses exames. Em muitos casos, quando não se dispõe de exames de qualidade, uma laparoscopia pode ser necessária para confirmar o diagnóstico, sendo hoje em dia, em grandes centros urbanos, quase que uma exceção fazer este procedimento apenas para o diagnóstico.

Os sintomas da endometriose de intestino delgado podem variar, mas podem incluir dor abdominal severa e distúrbios intestinais como diarreia e prisão de ventre. A presença de aderências e tecido endometrial pode agravar esses sintomas, levando a crises como obstruções intestinais, o que costuma não ser frequente. No entanto, não existem sintomas específicos da endometriose de intestino delgado, não sendo possível assim diferenciar essa das demais formas de endometriose intestinal apenas pelo quadro clínico da paciente.

O impacto na qualidade de vida é significativo, uma vez que a dor crônica e o efeito das doenças intestinais podem limitar a capacidade das pacientes de realizar suas atividades diárias, impactar na fertilidade e levar a perda de dias de trabalho e impactar de forma negativa nos relacionamentos afetivos.

Além disso, a ansiedade e a depressão podem surgir devido à incerteza associada à doença e ao tratamento, pois as pacientes podem sentir-se frustradas e isoladas por não terem o suporte necessário para lidar com a endometriose e suas complicações. Reconhecer esses fatores é fundamental para um tratamento holístico e efetivo.

O manejo da endometriose de intestino delgado é crítico e deve ser realizado por profissionais experientes em cirurgia do aparelho digestivo e coloproctologia. O tratamento inicial pode envolver abordagens hormonais para controlar o crescimento do tecido endometrial e sintomas, como anticoncepcionais orais e agonistas de GnRH, mas a presença de sintomas severos ou o risco de complicações justifica a cirurgia. Esse tratamento clínico deve ser realizado sob orientação de um ginecologista especializado em endometriose.

A cirurgia, frequentemente realizada por meio de laparoscopia ou robótica, com crescente número de publicações e evidências científica apontando para o benefício ainda maior da cirurgia robótica sobre a laparoscopia convencional no tratamento dessa doença , não só diagnostica outros focos de endometriose que geralmente podem passar desapercebido mesmo para os melhores exames de ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética da pelve, mas também permite remover todo o tecido anômalo da cavidade abdominal, pélvica intestinos, prevenindo o risco de obstruções. Uma abordagem cirúrgica pode incluir a ressecção de partes do intestino quando necessário, especialmente em casos de maior acometimento intestinal. Em casos mais superficiais e focos menores, shavings que é a técnica em que apenas o nódulo é removido do intestino sem necessidade de abertura intestinal ou remoção de uma parte do intestino, pode ser suficiente. Porém, no intestino delgado, dado seu pequeno diâmetro e maior risco de obstrução, quando existem diversos focos adjacentes ou quando o foco é mais profundo, geralmente opta-se pela remoção apenas do segmento acometido, com a reconexão imediata do intestino sem precisar das temidas "bolsinhas" ou estomas.

É importante que a decisão de intervir cirurgicamente seja discutida de forma transparente com a paciente, pesando os riscos e benefícios e esclarecendo a urgência que a endometriose de intestino delgado pode representar.

Quais são os principais sintomas da endometriose de intestino delgado?

Os sintomas incluem dor abdominal intensa, diarreia intermitente, prisão de ventre e, em casos severos, obstruções intestinais.

Como a endometriose é diagnosticada?

O diagnóstico pode combinar exames clínicos com ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal, ressonância magnética de pelve com preparo intestinal, e em casos específicos e raros em grandes centros urbanos, laparoscopia para visualização direta e confirmação da presença de tecido endometrial.

Qual é o papel do tratamento hormonal na endometriose intestinal?

O tratamento hormonal visa reduzir ou suprimir o crescimento do tecido endometrial, aliviando os sintomas e ajudando a prevenir complicações mais severas.

Quando a cirurgia é indicada para a endometriose de intestino delgado?

A cirurgia deve ser considerada em todas as pacientes com endometriose de intestino delgado, mesmo na ausência de sintomas significativos, dado seu maior risco de evoluir para obstruções intestinais.

É possível curar a endometriose de intestino delgado?

O melhor tratamento é a remoção completa de todas as lesões visíveis a olho nu durante a cirurgia por laparoscopia ou robótica. Esta é atualmente a recomendação para o tratamento com maiores chances de cura da endometriose de intestino delgado. Importante ressaltar que não necessitam de "bolsinhas" ou estomias para seu tratamento quando em uma cirurgia eletiva (programada), sendo esse risco presente nos casos de cirurgias de urgência.

Qual a importância de um cirurgião especialista no tratamento da endometriose intestinal?

Um cirurgião especializado, como um coloproctologista, possui o treinamento e a experiência necessários para realizar intervenções cirúrgicas complexas que podem ser necessárias para tratar a endometriose intestinal de maneira segura e eficaz, limitando os impactos na qualidade de vida dessas pacientes a longo prazo.

A endometriose de intestino delgado é uma condição rara, mas quando presente, exige uma abordagem cuidadosa e especializada. As pacientes devem ser informadas dos riscos significativos associados e das opções de tratamento eficazes que podem melhorar sua qualidade de vida. Consultar um especialista em cirurgia do aparelho digestivo e coloproctologia garantirá que as dúvidas sejam esclarecidas, e que o manejo da condição seja abrangente e seguro.